ELZIRA DANTAS MACHADO

1 – Nome conhecido / Nome civil

Elzira Dantas Machado / Elzira Dantas Gonçalves Pereira Machado

 

2 – Local, data de nascimento / Local, data de morte

Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 1865 / Porto, 21 de abril de 1942

 

3 – Profissão / cargo / função / ocupação

Ativista feminista, autora de literatura infantil, editora

 

4 – Relação com organizações feministas

Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, sócia fundadora

Associação de Propaganda Feminista (1911-1918), que presidiu.

Caixa de Auxílio aos Estudantes Pobres do Sexo Feminino (1912)

Comissão Feminina `Pela Pátria` (1914)

Empresa de Propaganda Feminista e Defesa dos Direitos da Mulher, acionista e presidente

Cruzada das Mulheres Portuguesas[1] (19/08/1916-1933) (fundadora, presidente executiva até fevereiro de 1923; eleita presidente de honra a 2 de abril de 1923)

Liga Internacional de Mujeres Ibéricas e Hispanoamericanas[2].

 

5 – Eventos feministas em que participou / foi nomeada para participar

6 – Publicações de teor feminista (autoria, entrevistas)

Entrevista ao jornal A Capital (1917) sobre a Cruzada das Mulheres Portuguesas

7 – Sociabilidades, correspondência com outras feministas[3]

Ana de Castro Osório

Alice Pestana

Maria Veleda

Adelaide Cabete

Carmen de Burgos

Estefânia Macieira

Palmira Pádua

Ester Norton de Matos

Etelvina Pereira D`Eça (vice-presidente da assembleia-geral da Cruzada)

 

8 – Manifestações de reconhecimento público (incluindo toponímia), prémios, condecorações[4]

Foi agraciada, em 1919, com a Grã-cruz da Ordem de Cristo pelo Presidente da República que distinguia a presidente da Cruzada das Mulheres Portuguesas, como “homenagem à dedicação e civismo manifestado no desempenho do cargo e às suas virtudes de senhora”. A associação foi distinguida com a Grã-cruz da Torre da Espada pelos humanitários serviços prestados aos soldados que combateram em Africa e França.

Praceta Elzira Dantas Machado – Vila Nova de Famalicão

 

9 – Espólios

 

10 – Elementos biográficos do percurso de vida, incluindo moradas: sumário

Elzira Dantas Machado, filha de mãe brasileira, Bernardina da Silva, e de pai português, Miguel Dantas Goncalves Pereira, sendo filha única, herdou a grande fortuna que o pai emigrado jovem para o Brasil construiu. Teve uma educação condizente com a sua situação económica privilegiada que incluiu a formação humanista baseada na literatura nacional e línguas estrangeiras, pelo que falava fluentemente inglês e francês. Viajou pela Europa e Brasil, relacionou-se e correspondeu-se com a elite intelectual da sua geração, incluindo as escritoras feministas portuguesas, espanholas e francesas que influenciaram o seu interesse pelas causas das mulheres.  Em 1882 casa com Bernardino Machado, também oriundo de famílias abastadas, professor universitário em Coimbra, futuro presidente da República. O “consórcio com o futuro estadista representava a perspetiva de trilhar duas vias pessoais diferentes, as quais, não sendo por natureza, contraditórias, seriam, no mínimo, difíceis de conciliar: a tradição e a emancipação femininas. (…) Elzira Dantas atualizou o modelo de comportamento social `no feminino`, através da tríplice função de mãe-educadora, gestora do património familiar e colaboradora do marido no ambiente doméstico e social” (Rosa, 2013, p. 246). Desafio acentuado pela excecionalmente numerosa prole (19 filhos e filhas), pela dimensão do património imobiliário que geria[5], e pela instabilidade da carreira académica e política do marido que significou frequentes mudanças de residência no país e no estrangeiro. Entre outras casas “a gestora do lar superintendeu e acondicionou às necessidades da vida quotidiana” (Rosa, 2013, p. 246) a residência oficial do presidente da República no Palácio de Belém, a Cidadela de Cascais e o Castelo de Santa Catarina, na Cruz Quebrada. Promoveu de forma ativa e direta o avanço da condição das mulheres intervindo em várias associações enquanto sócia ou fundadora, percurso onde foi acompanhada por três filhas, Rita, Maria Francisca e Joaquina. A 15 de fevereiro de 1916 é eleita oficialmente presidente da Associação de Propaganda Feminista, mandato que de facto exerceu em 1915, 1916, 1917. Neste âmbito desenvolveu o reforço da instituição através de distintas iniciativas como a promoção da imprensa da associação ou a assinatura de representações aos poderes políticos. Em conjunto com Ana de Castro Osório, assinou, a 10 de agosto de 1915, “o mínimo das reclamações feministas mais urgentes” (Rosa, 2013, p. 248), representação dirigida ao Governo e Parlamento que foi aprovada para publicação no Diário das Câmaras[6], documento que reivindicava o voto restrito para as mulheres instruídas. Durante o triénio do seu mandato na APF constituiu-se o grupo editor Empresa de Propaganda Feminista e Defesa dos Direitos da Mulher, sociedade que assegurava a publicação de A Semeadora, onde, além de acionista, assumiu as funções de presidente da comissão dirigente e administrativa da sociedade. Distinguiu-se com a fundação da Cruzada das Mulheres Portuguesas tendo sido reconhecido politicamente o papel desta instituição e da sua presidente, cargo de que pede demissão após o falecimento da filha Maria, enfermeira na guerra, vítima da pneumónica. No pós-guerra dá-se o declínio político da Primeira República e, em 1927, Elzira acompanha o marido no exílio, vivendo durante 13 anos em Espanha e em França. Em sua casa recebeu e auxiliou emigrados republicanos assim como responsáveis da oposição ao salazarismo. Em maio de 1940 regressa a Portugal, em 21 de abril de 1942 faleceu, no Porto. “Durante o seu percurso pessoal, Elzira Dantas Machado viveu, sem dúvida, momentos de triunfo mundano, mas também experimentou a adversidade: perdeu quatro filhos, enfrentou duas guerras mundiais e sofreu dois exílios que lhe roubaram a alegria de viver no aconchego da pátria e da família. Educada na ética republicana, trocou a comodidade de um estatuto social elevado pela responsabilidade da intervenção pública; ao ócio e à frivolidade preferiu o testemunho das suas convicções; desprezando o protagonismo mediático, contribuiu, de facto, para reduzir a exclusão cívica das mulheres.” (Rosa, 2103, p. 252).

11 – Fontes bibliográficas primárias

Entrevista ao jornal A Capital (1917) sobre a Cruzada das Mulheres Portuguesas: https://pesquisa-arquivo.cm-pontedelima.pt/viewer?id=1043015&FileID=426292

Consultar Arquivo CM Ponte de Lima Cruzada das Mulheres Portuguesas: https://pesquisa-arquivo.cm-pontedelima.pt/details?id=1042756

 

12 – Fontes bibliográficas secundárias

ESTEVES, João (1998) – As Origens do Sufragismo Português. A primeira organização sufragista portuguesa: A Associação de Propaganda Feminista (1911-1918). Lisboa: Bizâncio.

ROSA, Elzira Dantas Machado (2013) – Elzira Dantas Gonçalves Pereira Machado. In CASTRO, Zília Osório; ESTEVES, João, dir.– Feminæ Dicionário Contemporâneo. Lisboa: Livros Horizonte, p. 245-252.

 

13 – Fontes Iconográficas e Audiovisuais;

https://pt.wikipedia.org/wiki/Elzira_Dantas_Machado

– https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Elzira_Dantas_Machado,_enquanto_jovem_solteira_(pre-1882).png

– http://silenciosememorias.blogspot.com/2016/12/1564-elzira-dantas-machado-ii.html:

– https://expresso.pt/cultura/2016-03-17-Quando-as-nossas-avos-marcharam-para-a-guerra

– https://paredesdecoura.blogs.sapo.pt/204571.html:

– http://manuel-bernardinomachado.blogspot.com/2012/04/cuentos-para-mis-nietos-o-livro-de.html:

– https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Elzira_Dantas_Machado_com_o_seu_primeiro_filho_António_(1883).png

– https://bloguedominho.blogs.sapo.pt/bernardino-machado-e-elzira-dantas-16350263

– https://www.geni.com/people/Jerónima-Rosa-Dantas-Machado/6000000030129057885:

https://www.museu.presidencia.pt/pt/conhecer/presidentes-da-republica-biografias/presidentes-da-i-republica/bernardino-machado/#:

–https://www.wikitree.com/wiki/Gonçalves_Pereira-29:

13a) – Foto de Perfil

https://pt.wikipedia.org/wiki/Elzira_Dantas_Machado

 

NOTAS:

[1] Sobre o programa e objetivos da Cruzada cf. entrevista de Elzira Dantas Machado ao jornal A Capital (1917).

[2]  “Talvez por influência da jornalista e escritora espanhola Carmen de Burgos y Segui (1867-1932), Ana de Castro Osório e Elzira Dantas Machado (1865-1942) terão pertencido à Liga Internacional de Mujeres Ibéricas e Hispanoamericanas, fundada em 1922, pela mexicana Elena Arizmendi com o objetivo de `reunir la fuerza dispersa de figuras y organizaciones feministas de todos los países ibero-americanos` e cuja sede oficial era em Madrid, havendo comités em Portugal e na América Latina: persiste um único documento dessa Liga, sem data, enviado às duas senhoras por Georgina Fletcher, sua representante na Colómbia.” (Esteves, 2014, p. 55-56).

[3] Museu Bernardino Machado – Fundo Particular Bernardino Machado: correspondência de Elzira Dantas Machado com escritoras feministas (Rosa, 2013, p. 252).

[4] Museu Bernardino Machado – Fundo Particular Bernardino Machado: Diplomas: Cruzada das Mulheres Portuguesas (Rosa, 2013, p. 252).

[5] Administrou um conjunto de propriedades rurais no Minho, o Palacete e a Quinta de Mantelães, residência original da família do seu pai, a casa de veraneio, em Molêdo, outras casas e quintas situadas em Vila Nova de Famalicão da família Machado, as casas de Torre de Cima, Solar de Rorigo e palacete brasonado no centro da vila (Rosa, 2013, p. 247).

[6] Este documento foi igualmente publicado em A Semeadora, cf. números 4 e 5.

Inventariante / data:

Ana Ribeiro (anaribeirodasilva.mail@gmail.com) / novembro 2021

Este trabalho, para efeitos de citação:

RIBEIRO, Ana (2021) –  Elzira Dantas Machado. In BRASIL, Elisabete; LAGARTO, Mariana; RIBEIRO, Ana (2021) – Feminismos antes do 25 de Abril de 1974 (Portugal 1890-1949). Lisboa: FEM, p. 128-133.