ANA DE CASTRO OSÓRIO

1 – Nome conhecido / Nome civil

Ana de Castro Osório/ Anna Osório de Castro/ (Ann Moore: pseudónimo)

 

2 – Local, data de nascimento / Local, data de morte

Mangualde, 18 de junho de 1872 / Lisboa, 23 de março de 1935

 

3 – Profissão / cargo / função / ocupação

Escritora, Editora, Periodista, Pedagoga, Conferencista

 

4 – Relação com organizações feministas

Grupo Português de Estudos Feministas (que funda e dirige, 1907);

Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (que funda, em 1908, preside vários anos, e se demite, em 1911);

Associação de Propaganda Feminista (integrou grupo fundador, em 1911);

Comissão Feminina `Pela Pátria` (que cria, em 1914);

Maçon Loja Maçónica Feminina “Carolina Ângelo” (que funda, em 1915);

Empresa de Propaganda Feminista e Defesa dos Direitos da Mulher (acionista)

Cruzada das Mulheres Portuguesas (integrou grupo fundador, em 1917);

Liga Internacional de Mujeres Ibéricas e Hispanoamericanas[1].

 

5 – Eventos feministas em que participou / foi nomeada para participar

Eleita para integrar o grupo que deveria representar as feministas portuguesas no 7.º Congresso da International Women Suffrage Alliance, em Budapeste (15 a 20 de junho, 1913).

6 – Publicações de teor feminista (autoria, entrevistas)

(1905) Às Mulheres Portuguesas. Lisboa: Livraria Viúva Tavares[2].

(1908) A educação cívica da Mulher. Lisboa: Grupo Português de Estudos Feministas.

(1912) Deveres Feministas[3]. «A Mulher Portuguesa» (3 de agosto); «A Madrugada» (15 de outubro);

(1924) A Grande Aliança (a minha propaganda no Brasil). Lisboa: Edições Lusitania.

 

7 – Sociabilidades, correspondência com outras feministas

Adelaide Cabete

Beatriz Pinheiro[4]

Bertha Lutz (Brasil)[5]

Carmen de Burgos y Seguí

Carolina Beatriz Ângelo

Georgina Flétcher[6]

Jeanne Oddo-Deflou (França)[7]

Marguerite de Witt Schlumberger[8]

Maria Veleda

Virgínia Quaresma

 

8 – Manifestações de reconhecimento público (incluindo toponímia), prémios, condecorações

O seu nome surge na toponímia de[9]: Amadora; Cascais; Entroncamento; Lagos; Lisboa (Carnide); Mangualde; Moita; Montijo; Odivelas; Oeiras; Seixal (Amora, Corroios e Seixal); Sesimbra (Quinta do Conde e Sesimbra); Setúbal (Azeitão e Setúbal); Sintra (Queluz e Rio de Mouro); Tavira. O seu nome está associado a: Escola, em Mangualde; Concurso literário, em Mangualde; à Biblioteca Especializada Ana de Castro Osório, em Belém. Foram-lhe atribuídas duas condecorações, em 1919, a Ordem de Santiago, mas recusa condecoração; em 1931, a Ordem de Mérito Agrícola e Industrial. Foi erigido busto na Liga dos Combatentes da Grande Guerra. Foi emitido selo a 5 de outubro de 2009 na serie “Mulheres da República”.

 

9 – Espólios

Biblioteca Nacional. Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea, Família Osório de Castro (1884-1958), BNP Esp. N12[10]

 

10 – Elementos biográficos do percurso de vida, incluindo moradas: sumário

Ana de Castro Osório (18/06/1872, Mangualde; 23/03/1935, Lisboa)

Escritora, editora, pedagoga, conferencista, Ana de Castro Osório é considerada a precursora da literatura infantil e a mais eminente teórica do feminismo do seu tempo em Portugal. Nascida em Mangualde, mudou-se jovem para Setúbal, lugar onde funda uma editora, marco inicial de um percurso ímpar no campo intelectual, cívico e político, reconhecido pela sociedade coeva, também no estrangeiro, principalmente no Brasil. Figura capital do movimento feminista (humanista, segundo ela) foi-lhe atribuído o primeiro livro português declaradamente feminista[11] (Às Mulheres Portuguesas, 1905). Entre 1907 e 1917, fundou e liderou várias agremiações feministas, com reflexo na melhoria dos direitos das mulheres portuguesas.

Filha de Mariana Moor Quintins Osório de Castro e de João Baptista de Castro, em 1893 passa a residir em Setúbal, comarca onde o pai é colocado como juiz. Nesta cidade funda a Casa Editora “Para as Crianças”, contrai matrimónio, a 10 de março de 1898 na Igreja de Nª Sr.ª da Anunciada, com Paulino de Oliveira (natural de Setúbal, poeta, 1864-1914), e nascem os seus filhos (João de Castro Osório e Oliveira, 1899-1970; José Osório de Castro e Oliveira, 1900-1964). A historiografia local situa-a em duas residências em Setúbal: Praça do Bocage, n.º 114-116 (morada de solteira, que coincide com a da Editora)[12]; Praça Marquês de Pombal, n.º 3 (morada de casada). Em 1907 é iniciada na maçonaria, na Loja Humanidade e adota o nome simbólico de Leonor da Fonseca Pimentel. Foi acionista da Empresa de Propaganda Feminista e Defesa dos Direitos da Mulher e secretária da sua comissão dirigente (Esteves, 1998, p. 185). Após a morte prematura do marido, no Brasil, muda-se para Lisboa, para a casa dos pais (Rua do Arco do Limoeiro, 17)[13]. Foi nomeada, em 1916, inspetora dos Trabalhos Técnicos Femininos (Ministério do Trabalho). A partir de 1922 dedica-se exclusivamente à escrita distanciando-se da militância. Faleceu na sua casa de Lisboa, na Rua Augusto Rosa, 17, 2º andar[14]. Foi sepultada, em campa familiar, no cemitério do Alto de São João[15].

A par da sua ousadia, pioneirismo e contradições, a ampla e diversa atividade tornam-na num interessante objeto de estudo para várias disciplinas científicas. Com efeito, após o caminho desbravado pelo historiador João Esteves, assim como por Fátima Medeiros que aprofundou a sua faceta de escritora para a infância, pesquisas recentes e em curso vão definindo melhor um perfil não totalmente revelado se considerarmos que falta conhecer textos não publicados além de muita da prolixa correspondência com os vultos notáveis da sua época.

 

11 – Fontes bibliográficas primárias

 OSÓRIO, Anna de Castro (1905) – Ás mulheres portuguesas. Lisboa: Editora Viúva Tavares Cardoso. Disponível em <https://purl.pt/13902/1/index.html#/14/html> [Consulta realizada em 16/07/2021]

OSÓRIO, Ana de Castro (1908) – A Educação Cívica da Mulher. Lisboa: Grupo Português de Estudos Feministas. Typographia Liberty.

 

12 – Fontes bibliográficas secundárias

 ABENSOUR, Léon (1921) – Histoire Génerale du Féminisme. Paris: Librairie Delagrave.

ALMEIDA, Carla & MONTEIRO, Marta (ilust.) (2015) – Ana de Castro Osório. A mulher que votou na literatura. Lisboa: Pato Lógico Edições /INCM. Coleção Grandes Vidas Portuguesas.

COVA, Anne (2011) – Ana de Castro Osório. WAYNE, Tiffany, ed. (2011) – Feminist Writings From Ancient Times to the Modern World. A Global Sourcebook and History, vol, 2. Santa Barbara: Greenwood, p. 372-374. Disponível em

<https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/20059/1/ICS_ACova_AnaCastroOsorio_CLI.pdf> [Consulta realizada em 24/09/2021]

ESTEVES, João (1997) – A Colecção Castro Osório – Ana de Castro Osório (1872-1935). In BETTENCOURT, Francisco, dir. – Leituras: Revista da Biblioteca Nacional, nº1.

ESTEVES, João (1998) – As Origens do Sufragismo Português. A primeira organização sufragista portuguesa: A Associação de Propaganda Feminista (1911-1918). Lisboa: Editora Bizâncio.

ESTEVES, João (2005) – Ana de Castro Osório. In CASTRO, Zília Osório; ESTEVES, João, dir. Dicionário no Feminino. Séculos XIX e XX. Lisboa: Livros Horizonte, p. 91-98.

ESTEVES, João (2014) – Ana de Castro Osório (1872-1935) [Col. Fio de Ariana]. Lisboa: Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género.

EZAMA, Ángeles (2013) – Ana de Castro Osório, uma mujer que trespasó fronteras: sobre unos textos olvidados em la española Revista de la raza. «Revista de Escritoras Ibéricas», 1-101.[16]

MOACHO, Dulce Maria Batista (2003) – Ana de Castro Osório e as origens do feminismo em Portugal. Lisboa: ISCTE. Dissertação de mestrado.

MEDEIROS, Fátima (1997) – Do fruto à raiz. Uma introdução às histórias maravilhosas da tradição popular portuguesa recolhidas e recontadas por Ana de Castro Osório. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa. Dissertação de mestrado.  Disponível em <http://hdl.handle.net/10362/30467> [Consulta realizada em 10/09/2021].

NÓVOA, António (2003) – Dicionário de Educadores Portugueses. Vila Nova de Gaia: Edições Asa.

PESSANHA, Camilo (1983) – Cartas a Alberto Osório de Castro, João Baptista de Castro, Ana de Castro Osório (6ª ed.). Lisboa: Ática

SAMARA, Maria Alice (2007) – Ana de Castro Osório: doutrina e organização In SAMARA, Maria Alice – Operárias e burguesas: as mulheres no tempo da República. Lisboa: A Esfera dos Livros p.113-131.

SILVA, Regina Tavares (1982) – Feminismo em Portugal na Voz de Mulheres Escritoras do Início do Séc. XX. Lisboa: Comissão da Condição Feminina, 3.ª edição, 2002.

 

13 – Fontes Iconográficas e Audiovisuais

 Ana de Castro Osório (com 16 anos): https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Ana_de_Castro_Osório

Ana de Castro Osório, em cenário natural, com cão: https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Ana_de_Castro_Osório

– Ana de Castro Osório, foto de perfil (ver abaixo): https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Ana_de_Castro_Osório

 – Ana de Castro Osório (1913): https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Ana_de_Castro_Osório

 ­– Ana de Castro Osório (1916): Furtado & Reis, Rua de Santa Justa 107 (Museu Bordalo Pinheiro)

https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Ana_de_Castro_Osório

– Ana de Castro Osório (na Biblioteca pessoal): https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Ana_de_Castro_Osório

 – Fotografias de Ana de Castro Osório e imagens de capas dos seus livros: https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Ana_de_Castro_Osório

–  Imagens de correspondência de Ana de Castro Osório: http://casacomum.org/cc/pesqArquivo.php?termo=ana+castro+osório

– RTP: “Ana de Castro Osório, militante do feminismo e da literatura infantil” (para apresentar o livro de Carla Almeida publicado pela INCM): https://ensina.rtp.pt/artigo/ana-de-castro-osorio-militante-do-feminismo-e-da-literatura-infantil/

– CML: para assinalar a inauguração, em 2013, da Biblioteca especializada em Belém. Identifica uma descendente de Ana de Castro Osório que oferece foto da feminista à Biblioteca: https://www.youtube.com/watch?v=OsPC4nJmEf0

– O catálogo online da Torre do Tombo tem 7 documentos fotográficos de Ana de Castro Osório[17].

 

13a) – Foto de Perfil

https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Ana_de_Castro_Osório

 

NOTAS:

[1]  “Talvez por influência da jornalista e escritora espanhola Carmen de Burgos y Segui (1867-1932), Ana de Castro Osório e Elzira Dantas Machado (1865-1942) terão pertencido à Liga Internacional de Mujeres Ibéricas e Hispanoamericanas, fundada em 1922, pela mexicana Elena Arizmendi com o objetivo de `reunir la fuerza dispersa de figuras y organizaciones feministas de todos los países ibero-americanos` e cuja sede oficial era em Madrid, havendo comités em Portugal e na América Latina: persiste um único documento dessa Liga, sem data, enviado às duas senhoras por Georgina Fletcher, sua representante na Colómbia.” (Esteves, 2014, p. 55-56).

[2] “Considerado por Regina Tavares da Silva `o manifesto do movimento feminista português`” (Esteves, 2014, p. 45).

[3] Aborda “os aspectos essenciais defendidos pela corrente feminista em Portugal” (Silva, 2002, p. 73).

[4] Cf. BN, ACPC, Coleção de Castro Osório, Espólio N12/97, 7 cartas de Beatriz Pinheiro a Ana de Castro Osório, entre 1899 e 1922.

[5] Correspondência com Bertha Lutz:

https://revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/navegacoes/article/view/32139

[6] Representante da Liga Internacional de Mujeres Ibéricas e Hispanooamericanas na Colômbia, (Esteves, 2014, p. 55).

[7] Dirigente do Groupe Français d`Ètudes Féministes, correspondentes em 1907 (Esteves, 2014, p. 47 e 55).

[8] Dirigente da Union Française Pour Le Suffrage des Femmes, correspondentes em 1917 (Esteves, 2014, p. 55).

[9] https://ruascomhistoria.wordpress.com/2016/06/18/ana-de-castro-osorio-republicana-e-defensora-dos-direitos-das-mulheres/

[10] Em consulta à BN apurámos ainda: o Espólio não se encontra disponível on line, mas está disponível para consulta na sala de leitura de Reservados, onde é possível aceder ao respetivo inventário (em atualização após a última incorporação). Cf. https://acpc.bnportugal.gov.pt/colecoes_autores/n12_osorio_castro_familia.html.

[11] Regina Tavares da Silva (2002, p. 22).

[12] Neste sentido também Esteves, 2014, p.32.

[13] Esteves, 2014, p.36.

[14] Esteves, 2014, p.36.

[15] Esteves, 2014, p.63.

[16] https://www.researchgate.net/publication/287557122_Ana_de_Castro_Osorio_una_mujer_que_traspaso_

fronteras_sobre_unos_textos_olvidados_en_la_espanola_Revista_de_la_Raza

[17] Resultados da consulta efetuada na Torre do Tombo: descrição e referências de 6 dos 7 documentos fotográficos existentes:

Ana de Castro Osório no seu gabinete de trabalho (https://digitarq.arquivos.pt/details?id=1207832);

Um aspeto da residência de Ana de Castro Osório (https://digitarq.arquivos.pt/details?id=1207833);

Quarto de Ana de Castro Osório (https://digitarq.arquivos.pt/details?id=1207834);

Biblioteca de Ana de Castro Osório (https://digitarq.arquivos.pt/details?id=1207835);

Ana de Castro Osório (https://digitarq.arquivos.pt/details?id=7794218);

Inauguração do busto de dona Ana de Castro Osório, na Liga dos Combatentes da Grande Guerra (https://digitarq.arquivos.pt/details?id=1011713).

 

Inventariante / data:

Ana Ribeiro (anaribeirodasilva.mail@gmail.com) / outubro 2021

 

Este trabalho, para efeitos de citação:

RIBEIRO, Ana (2021) – Ana de Castro Osório. In BRASIL, Elisabete; LAGARTO, Mariana; RIBEIRO, Ana (2021) – Feminismos antes do 25 de Abril de 1974 (Portugal 1890-1949). Lisboa: FEM, p. 103-109.

×