Associação de Propaganda Feminista (APF)

1 – Denominação (Local, Data da Fundação/Encerramento)

Associação de Propaganda Feminista (Lisboa, 12/05/1911-1918)

Na sua fase final (1917-1918) foi utilizada a designação Associação de Propaganda Feminista e Defesa dos Direitos da Mulher

2 – Morada da(s) Sede(s)

Primeiras reuniões no consultório de Carolina Beatriz Ângelo (Lisboa, Rua Nova do Almada, 64)[1]; num certo período funcionou na casa de Mariana Osório de Castro (Lisboa, Rua do Arco do Limoeiro, 17)[2].

  

3 – Presidente(s), fundadoras, militantes, representantes

Presidentes e outros cargos:

Carolina Beatriz Ângelo (presidente em 1911)

Joana de Almeida Nogueira (1911-1914) eleita vice-presidente da direção na reunião fundadora, substitui Carolina Beatriz Ângelo na presidência

Mariana Osório de Castro (segunda presidente eleita)

Ana de Castro Osório (quando retorna do Brasil, presidente, em 1914 até presidência de EDM); secretariou a reunião fundadora e foi eleita 1ª secretária da direção)

Elzira Dantas Machado (presidente eleita em 15/02/1916, cujo mandato, de facto, foi nos anos 1915, 1916, 1917)

Maria Laura Monteiro Torres (eleita 2ª secretária da direção na reunião fundadora, que secretariou)

 

Militantes:

Não ultrapassou a centena de sócias, mas entre estas contavam-se nomes históricos da militância feminista e republicana portuguesa:

Adelaide Costa

Adelaide de Sousa Barradas

Águeda Pereira e Silva Gomes

Albertina Aldegundes de Moura Benício

Alice Moderno

Alzira Vieira

Amélia Jacobety Faure de Rosa

Amélia Augusta Graça Soares e Sousa Zuzarte

Amélia Trigueiros de Sampaio

Ana Augusta de Castilho

Antónia Bermudez

Beatriz Adelaide da Cunha Magalhães

Beatriz Magalhães Adão

Beatriz Pinheiro

Constança Dias

Corina Ângelo do Couto

Delfina Goulart de Lemos

Dilára da Visitação Moura

Domicilia de Castro Fernandes

Elmana Trigo de Brito

Elvira Barreto de Carvalho

Emília de Sousa Costa

Ermelinda Rodrigues da Silveira

Felismina Branquinho Lopes de Oliveira

Filomena de Albuquerque Manso Preto

Guilhermina de Bataglia Ramos (Rua do Arco do Limoeiro, 17)[3].

Ilda Jorge de Bulhão Pato

Inês da Conceição Conde

Isabel Maria Correia/Maria Isabel Correia

Josefa da Nazaré Carita Gameiro

Júlia Antunes Franco

Júlia das Mercês Ferreira

Júlia Santos

Laura de Almeida Nogueira

Laurinda Augusta Ferreira

Leopoldina Penella

Luthegarda Guimarães de Caires

Manuela Bermudez

Maria da Glória Baptista e Sousa

Maria da Luz Pereira e Silva

Maria de Figueiredo Fryo e Gomes

Maria do Carmo Bahia Rodrigues dos Santos

Maria do Carmo Lopes

Maria Emília Ângelo Barreto

Maria Ermelinda Rosa Simões Chós

Maria Evelina de Sousa

Maria Feio

Maria Felizardo Coelho

Maria Francisca Dantas Machado

Maria Irene Zuzarte

Maria Isabel Correia Manso

Maria José B. Ângelo

Mariana Osório de Castro

Palmira do Carmo Martins

Palmira Ribeiro

Rita Olímpia Dantas Machado

Teodora Marques

Vitória Baptista de Sousa

Vitória Pais Freire de Andrade Madeira

 

4 – Órgão(s)

A Mulher Portuguesa (1912-1913)[4]

A Semeadora (1915-1918)[5]

5 – Programa / Estatutos /Objetivos

A APF tinha por ambição e metas “elevar a mulher pela educação e instrução”[6].

A APF visava, de acordo com os estatutos publicados na Revista Pedagógica (Associação de Propaganda Feminista, 31/08/1911, col.3, p. 1 e col.1., p. 2):

“1º O levantamento moral e social da mulher e a sua independência económica, sem a qual não pode existir em bases seguras esse levantamento; 2.º Promover por todos os meios ao seu alcance a educação e a instrução feminina; 3º Vigiar e estudar as leis sob o ponto de vista feminino; 4.º Fazer a propaganda sufragista que é a base do sufragismo e do humanismo, porque desde que a mulher esteja afastada da questão social e política os seus direitos serão sempre esquecidos; 5.º Proteger moral e materialmente as mulheres e as crianças; 6.º Auxiliar as escolas, promover festas infantis, dar, enfim, todo o seu concurso moral e material quando o possa à instrução infantil; 7.º Pôr-se em contacto com todas as associações feministas do mundo; 8.º Publicar, logo que os recursos da Associação o permitam, um jornal semanal de propaganda feminista, tratando de questões sociais, históricas e educativas.” (Esteves, 1998, p.27-28; 2005, p.141-142).

 

6 – Evento(s) que organizou / participou: título; data e local; cartaz, anúncio publicado; notícias

“Programa” da festa inaugural e lista de personalidades a convidar (incluindo Maurício Costa, advogado da APF), cf. carta de Carolina Beatriz Ângelo a Ana de Castro Osório que esta recebeu a 11/10/1911, após ter recebido a notícia da morte da amiga por telegrama de 04/10/1911 (Esteves, 2008, p.243).

Não foi possível ainda confirmar se a comissão de representantes portuguesas eleitas para participar no sétimo Congresso da International Women Sufragge Alliance (todas sócias da APF: Ana Augusta Castilho, Ana de Castro Osório, Beatriz Pinheiro, Luthgarda de Caires, Joana de Almeida Nogueira e Maria Veleda), que se realizou em Budapeste (15-21 de junho de 1913), de facto esteve presente no evento[7].

7 – Afiliações internacionais

“Em resultado do facto de Carolina Beatriz Ângelo ter sido a primeira mulher a votar em Portugal, e na Europa do Sul, a APF ganhou projeção nacional e internacional tendo sido nesse mesmo ano admitida na International Women Suffrage Alliance. Primeiro surgiu o convite para o 6.º Congresso, que decorreu em Amesterdão, em 1911, e a admissão foi confirmada por carta de 16 de novembro, assinada por Martina G. Kramers.” (Esteves, 2005, p. 142).

 

8 – Memorabilia (crachás e outros artefactos)

Em carta (ver ponto 6.) Carolina Beatriz Ângelo refere-se a uma bandeira.

 

9 – Símbolo da Organização /Logotipo

Apresenta como insígnia três cravos brancos (Esteves, 1998, 2005)[8]

 

10 – Percurso da Organização: sumário

A 12 de maio de 1911, no consultório da médica Carolina Beatriz Ângelo, realiza-se a reunião que dá início às atividades da Associação de Propaganda Feminista (APF), a primeira organização portuguesa a assumir-se como sufragista. A fundação da APF resulta das divergências no seio da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (LRMP) sobre o voto feminino e a tolerância religiosa que opuseram Maria Veleda a Ana de Castro Osório (até aí, presidente da LRMP), que saiu e é acompanhada, entre outras dissidentes[9], por Carolina Beatriz Ângelo, que preside a APF até à sua morte prematura em outubro de 1911, sucedendo no cargo Ana de Castro Osório e, no início de 1916, Elzira Dantas Machado.

A APF, que cortou ligações partidárias ao Partido Republicano embora defensora do ideal republicano, “assumiu-se como feminista e concentrou os esforços na reivindicação do sufrágio feminino e na análise dos problemas específicos da mulher” (Esteves, 2005, p. 141). Além do combate mundial pelo direito de voto das mulheres destacam-se outras duas causas que moveram a APF, a Guerra 1914-1918 e o caso da condenada Maria Fermiana. Declarar-se exclusivamente feminista dificultou a captação de adeptas, por outro lado, o discurso da APF apresenta-se pouco estruturado e as iniciativas desenvolvidas tiveram pouco impacto. Ainda assim, esta agremiação prolongou-se após a morte de Carolina Beatriz Ângelo e a partida de Ana de Castro Osório para o Brasil, em 1911, mantendo-se até 1918. Distinguiu-se pelo pendor internacionalista e reconhecimento internacional obtido pelo voto histórico da sua presidente e pela capacidade de veicular os seus ideais nos dois órgãos de impressa que fundou. Esta organização encontra-se estudada em profundidade por João Esteves que lhe dedicou uma publicação (1998).

 

11 – Fontes Bibliográficas primárias

Associação de Propaganda Feminista, Revista Pedagógica, 31/08/1911, col.3, p. 1 e col.1, p. 2.

OSÓRIO, Ana de Castro (1911) – O triunfo feminista–A conquista do voto. «O Tempo», 16/05/1911, cols. 1-3, p. 1.

OSÓRIO, Ana de Castro (1912) – Associação de Propaganda Feminista – `Perseverança, Verdade, Justiça`, «A Mulher Portuguesa», n.º 1, junho de 1912, col, 2, p. 2.

 Sufragistas Portuguesas– Resolvem fundar uma Associação de propaganda. «O Tempo», 13/05/1911, col.2, p. 3.

 A Mulher Portuguesa: http://ric.slhi.pt/A_Mulher_Portuguesa/revista

 

 

12 – Fontes Bibliográficas secundárias

 ESTEVES, João (1998) – As Origens do Sufragismo Português. A primeira organização sufragista portuguesa: A Associação de Propaganda Feminista (1911-1918). Lisboa: Editora Bizâncio.

ESTEVES, João (2005) – Associação de Propaganda Feminista. In CASTRO, Zília Osório; ESTEVES, João, dir.Dicionário no Feminino. Séculos XIX e XX. Lisboa: Livros Horizonte, p. 141-142.

ESTEVES, João (2014) – Ana de Castro Osório (1872-1935) [Col. Fio de Ariana]. Lisboa: Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género.

VAQUINHAS, Irene (2013-2014) – Associação de Propaganda Feminista (1911-1918). In ROLLO, Maria Fernanda, coord. geral (2013-2014) – Dicionário de História da I República e do Republicanismo.  Lisboa: Assembleia da República, p. 260-261. Disponível em: https://estudogeral.uc.pt/bitstream/10316/41365/1/Associaçao%20de%20propaganda%20feminista.pdf

 

13 – Fontes Iconográficas e Audiovisuais

 Revista Illustração Portuguesa, n.º 276, de 5/06/1911 (Título : “Estão eleitas as Constituintes. A eleição em Lisboa”, p. 713-715: foto e texto): “Uma nota curiosa das eleições foi a de votar uma senhora, a única eleitora portugueza, a medica D. Carolina Beatriz Ângelo, inscripta com o numero 2:513 na freguesia de S. Jorge de Arroyos.”

Legenda da foto n.º 4: A srª D. Carolina Beatriz Ângelo, a primeira eleitora portugueza, acompanhada pela srª D. Anna de Castro Osorio, presidente da Liga das Suffragistas Portuguezas – Clichés de Benoniel): http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/IlustracaoPort/1911/N276/N276_master/N276.pdf

– Notícia e publicação da carta de Martina G. Kramers da Women Suffrage Alliance: http://ric.slhi.pt/A_Mulher_Portuguesa/visualizador/?id=20010.001&pag=5

 

NOTAS:

[1] Cf. Página de anúncios em A Mulher e a Criança, n.º 13, Ano II, junho de 1910.

[2] Cf. Esteves, 2014, p.36.

[3] Esteves, 2014, p.36.

[4] Cinco números digitalizados e analisados: http://ric.slhi.pt/A_Mulher_Portuguesa/revista

[5] Digitalização (total de 142 páginas) em Biblioteca Nacional Digital: https://purl.pt/26894/1/index.html#/18-19/html

[6] João Esteves (1998) refere que a aclaração sobre a conduta da Associação foi feita por Carolina Beatriz Ângelo em várias entrevistas que concede em abril e maio de 1911, mas “acabou por ser Ana de Castro Osório a responsável pela definição das suas ambições e metas” (p.31) em publicação de 1912: Associação de Propaganda Feminista – `Perseverança, Verdade, Justiça`. «A Mulher Portuguesa», n.º 1, junho de 1912, col, 2, p. 2.

[7] Dar seguimento a este tópico pela consulta de: Elisabeth Cady Stanton et al “History of Woman Sufragge 1900-1920”.

[8] Na conhecida foto de Carolina Beatriz Ângelo acompanhada de Ana de Castro Osório, a  28/05/1911, quanto votou, pode observar-se que usam estas flores na lapela dos casacos.

[9] Demissionárias: Ana de Castro Osório (presidente), Carolina Beatriz Ângelo (vice-presidente), Rita Dantas Machado (tesoureira da direção), Maria Laura Monteiro Torres (1ª secretária da mesa da assembleia geral) e Maria Irene Zuzarte (2ª secretária da mesa da assembleia geral) que se demitiram dos cargos que ocupavam na Liga (Esteves, 1998, p. 25). Em torno deste núcleo delineou-se a nova organização, contudo porque este historial dava azo a confusões entre as duas organizações Antónia Bermudez publica artigo para frisar a distinção:  Associação de Propaganda Feminista, O Mundo, 9/9/1913, col. 2., p. 1.

Inventariante / data

Ana Ribeiro (anaribeirodasilva.mail@gmail.com) / outubro 2021

Este trabalho, para efeitos de citação:

RIBEIRO, Ana (2021) – Associação de Propaganda Feminista. In BRASIL, Elisabete; LAGARTO, Mariana; RIBEIRO, Ana (2021) – Feminismos antes do 25 de Abril de 1974 (Portugal 1890-1949). Lisboa: FEM, p. 90-96.

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