1 – Nome conhecido / Nome civil
Beatriz Pinheiro/ Beatriz Paes Pinheiro de Lemos
2 – Local, data de nascimento / Local, data de morte
Viseu, 29 de outubro de 1871/ Lisboa, 14 de outubro de 1922
3 – Profissão / cargo / função / ocupação
Escritora, Professora, Editora
4 – Relação com organizações feministas
Liga Portuguesa da Paz (1899-1917), correspondente local em Viseu;
Grupo Português de Estudos Feministas (Lisboa, 1907-1908), membro;
Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (1908-1919), membro (em carta dirigida a Ana de Castro Osório, datada de 11 de maio de 1909, considerou a hipótese de constituir um núcleo local, em Viseu);
(1911-1918)[1];
Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (1914-1947).
5 – Eventos feministas em que participou / foi nomeada para participar
Eleita para integrar o grupo que deveria representar as feministas portuguesas no 7.º Congresso da International Women Suffrage Alliance, em Budapeste (15 a 20 de junho, 1913).
6 – Publicações de teor feminista (autoria, entrevistas)
Crónica, «Ave Azul» (1.ª série, fascículo 11), novembro de 1899, p. 497-506[2].
A Emancipação da Mulher (A Mulher e o trabalho: a instrução da mulher: comunidade dos sexos nas
escolas (excerto de um discurso do Prof. sr. F. Italo Giuffré). «Ave Azul» (2.ª série, fascículo 4), abril de 1900, p. 197-222.
A Mulher Portuguesa e a Guerra Europeia – conferência proferida a 8 de junho de 1916 no Liceu Maria Pia, em Lisboa, editada pela Associação de Propaganda Feminista.
7 – Sociabilidades, correspondência com outras feministas
Ana de Castro Osório[3]
Alice Pestana
8 – Manifestações de reconhecimento público (incluindo toponímia), prémios, condecorações
A 26 de abril de 1923, pouco depois do falecimento de Beatriz Pinheiro, foi proposto em sessão ordinária da Câmara Municipal de Viseu que o seu nome fosse inscrito no espaço público, pedido renovado em 2020 que continua por concretizar[4].
9 – Espólios
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10 – Elementos biográficos do percurso de vida, incluindo moradas: sumário
Beatriz Pinheiro (Viseu, 29 de outubro de 1871/ Lisboa, 14 de outubro de 1922)
Autora, professora, editora, Beatriz Pinheiro, licenciada em Ciências e Letras, foi uma das mais relevantes republicanas feministas portuguesas do início do século XX[5] (Esteves, 2005). Com presença assídua em vários periódicos[6] assinou textos sobre a situação das mulheres portuguesas para as quais aspirava condições de educação e trabalho em equivalência com os homens, como garante de autonomia financeira, valorização pessoal e contributo social. Fundou e dirigiu, juntamente com o marido, a revista literária Ave Azul (1899-1900), considerada a primeira revista feminista publicada em Portugal[7].
Filha de Francisco Pinheiro e de Antónia Paes de Figueiredo, nascida em Viseu, na rua da Senhora da Piedade, teve acesso a educação formal em regime de coeducação, modelo que enaltece nos seus textos. O gosto pela escrita manifesta-se cedo, ainda estudante liceal, tendo colaborado na revista académica Mocidade, fundada pelo futuro marido Carlos de Lemos.
Terá começado a lecionar por volta de 1900. É uma figura com destaque na cena cultural e nas causas sociais da sua cidade natal. Participou em récitas no Grémio de Viseu enquanto atriz amadora e tocava harpa. Esteve entre as fundadoras da União das Senhoras Liberais de Viseu e da Escola Liberal de João de Deus, destinada a apoiar a educação de raparigas pobres, instituição inaugurada a 10 de novembro de 1901 em sessão que presidiu e onde discursou[8]. A partir de Viseu pertenceu a várias associações de âmbito nacional, como a Liga Portuguesa da Paz, sendo a correspondente e delegada da Liga no distrito de Viseu, o Grupo Português de Estudos Feministas e a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, tendo ponderado constituir um núcleo local desta organização.
O conservadorismo católico presente na cidade natal e ambiente político vigente leva o casal a mudar-se para Lisboa onde se encontra no momento da instauração da República. Em 1911, Beatriz Pinheiro é professora provisória no Liceu Feminino Maria Pia onde leciona Francês, Geografia e História. Na capital, a sua notoriedade acentua-se. Aderiu à Associação de Propaganda Feminista, ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, é iniciada na maçonaria. A 8 de junho de 1916, profere no Liceu Maria Pia a conferência “A Mulher Portuguesa e a Guerra Europeia”.
A sua obra, quer os escritos de teor feminista, quer a ficção literária, apresenta por denominador comum a denúncia dos problemas das mulheres do seu tempo: a falta de instrução, a dependência de dote e do casamento, a pobreza, a gravidez indesejada, a situação das mães solteiras, a prostituição feminina, a situação das esposas-viúvas de marido vivo devido ao êxodo para o Brasil. Denuncia e propõe soluções pragmáticas baseadas na igualdade de oportunidades e de direitos civis que preconizam uma sociedade mais justa e um futuro mais risonho de acordo com o seu temperamento intransigentemente otimista[9]. Esta ousadia valeu-lhe aplausos a par de duras críticas com eco na imprensa da época (Silveira, 2017).
Faleceu em Lisboa, na Rua do Barão, n.º 17, 3.º andar (Sé), sendo sepultada no Cemitério do Alto de São João.
11 – Fontes bibliográficas primárias
Crónica, «Ave Azul» (1.ª série, fascículo 8), junho de 1899, p. 321-327.
A Espera, «Ave Azul» (1.ª série, fascículo 3), março de 1899, p. 109-112.
12 – Fontes bibliográficas secundárias
ESTEVES, João (2005) – Beatriz Paes Pinheiro de Lemos. In CASTRO, Zília Osório; ESTEVES, João, dir. – Dicionário no Feminino. Séculos XIX e XX. Lisboa: Livros Horizonte, p. 166-167.
NÓVOA, António (2003) – Dicionário de Educadores Portugueses. Vila Nova de Gaia: Edições Asa.
SILVEIRA, Anabela Ferreira (2017) – O protagonismo de Beatriz Pinheiro na Revista Viseense Ave Azul (1899-1900). «Historiae», Rio Grande, 8 (2), p. 77-95.
13 – Fontes Iconográficas e Audiovisuais;
– Ave Azul (1899-1900). Hemeroteca digital. Lisboa http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/AveAzul/AveAzul.htm
– Suplemento do Jornal O Século (12/05/1910). Liga Republicana das Mulheres Portuguesas: 7- Beatriz Paes Pinheiro Lemos: https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Veleda
– Sociedade Futura, n.º 13, 15/11/1902- foto de Beatriz Pinheiro: http://ric.slhi.pt
– Foto de perfil de Beatriz Pinheiro: http://mulheresilustres.blogspot.com/2012/05/beatriz-pinheiro.html
Fotos e texto: ESTEVES, João, Beatriz da Conceição Paes Pinheiro de Lemos. Disponível em: http://silenciosememorias.blogspot.com/search?q=beatriz+pinheiro
Fotos e texto: SOUSA, Martim de Gouveia. Beatriz Pinheiro e o direito das mulheres. Disponível em: http://aveazul.blogspot.com
13a) – Foto de Perfil
https://pt.wikipedia.org/wiki/Beatriz_Pinheiro
NOTAS:
[1] Beatriz Pinheiro não inclui a lista com 63 nomes de sócias da APF apresentada por Esteves, 2008, p. 185-194; no entanto, a investigadora Anabela Silveira (2017) estabelece a relação da feminista com esta associação.
[2] http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/AveAzul/1899/N011/N011_master/AveAzulN11.pdf
[3] Cf. BN, ACPC, Coleção de Castro Osório, Espólio N12/97, 7 cartas de Beatriz Pinheiro a Ana de Castro Osório, entre 1899 e 1922.
[4] https://www.esquerda.net/opiniao/ruas-quem-merece/74032
[5] Esteves, 2005, p. 167.
[6] Ave Azul (1899-1900); A Beira, Nova Aurora (1900-1901); Almanaque das Senhoras (1901, 1916, 1924);
A Crónica (1900-1906); Alma Feminina (1907-1908); O Garcia de Resende (1908-1909); O Mundo (1909);
A Madrugada (1913); A Semeadora (1915).
[7] Silveira, 2017.
[8] Esta intervenção foi noticiada pelo O Distrito de Viseu, a 12 de novembro de 1901.
[9] Crónica, «Ave Azul» (1.ª serie, fascículo 8), junho de 1899, p. 326.
Inventariante / data:
Ana Ribeiro (anaribeirodasilva.mail@gmail.com) / outubro 2021
Este trabalho, para efeitos de citação:
RIBEIRO, Ana (2021) – Beatriz Pinheiro. In BRASIL, Elisabete; LAGARTO, Mariana; RIBEIRO, Ana (2021) – Feminismos antes do 25 de Abril de 1974 (Portugal 1890-1949). Lisboa: FEM, p. 110-114.