CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO

1 – Nome conhecido / Nome civil

Carolina Beatriz Ângelo/ Carolina Beatriz Ângelo

 

2 – Local, data de nascimento / Local, data de morte

Guarda, 16 de abril de 1878[1] / Lisboa, 3 de outubro de 1911

 

3 – Profissão / cargo / função / ocupação

Médica, militante e dirigente feminista

 

4 – Relação com organizações feministas

Liga Portuguesa da Paz (secção portuguesa da associação internacional La Paix et le Désarmement par les Femmes) (vogal, demitiu-se em julho de 1909)

Grupo Português de Estudos Feministas (1907-1908) (militante);

Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (integrou grupo fundador, eleita vice-presidente da direção em setembro de 1910, demite-se, em 1911);

Associação de Propaganda Feminista (integrou grupo fundador, primeira Presidente).

 

5 – Eventos feministas em que participou / foi nomeada para participar

 

6 – Publicações de teor feminista (autoria, entrevistas)

Feminismo Reclamante – As mulheres e o serviço militar obrigatório. Vai tratar o assunto, em uma conferência, a srª D. Carolina Ângelo. «A Capital», 25/05/1911, cols. 5-6, p.1.

No Limiar da Urna– As mulheres querem entrar! – “Se a lei não nos abre a porta, também não nos põe na rua” – Assim o entende uma denodada sufragista portuguesa. R.J., «A Capital», 25/03/1911, cols. 6-7, p. 1 e col.1, p. 2.

Uma eleitor? – A srª D. Beatriz Ângelo quer votar – A República entrevista-a. «República», 05/04/1911, col.1, p. 2.

Reivindicações Feministas– A lei eleitoral não exclui as mulheres– Afirma-o a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, pela. voz de uma das suas mais ilustres representantes”. «O Século», 05/04/1911, col.7, p.1, e cols 1-2, p.2.

Uma palestra– Juridicamente, as mulheres têm direito a ir à urna, diz a srª D. Carolina Ângelo, apud Esteves, 1998, p. 216-217.

Em quem vota a primeira eleitora? Nos drs. Afonso Costa, Teófilo Braga, Bernardino Machado e Magalhães Lima – Outras declarações curiosas nos faz a srª D. Carolina Beatriz Ângelo. «O Tempo», 03/05/1911, p.1, cols.4-6.

O Triunfo Do Feminismo– O Voto da Mulher em Portugal– Um jornal holandês publica uma interessante entrevista com a srª D. Carolina Beatriz Ângelo, a primeira mulher que votou em Portugal. «A Vanguarda», 18/07/1911, p.1, cols.6-7.

28 de Maio de 1911– Uma Data Histórica – D. Carolina Beatriz Ângelo, «A Vanguarda», 29/05/1911, p.1, col.2.

  1. Jorge de Arroios– Vota, entre aplausos, a srª D. Beatriz Ângelo”. «O Tempo», 29/05/1911, col.3, p. 2.

Eleições Em Lisboa – O incidente da assembleia de Arroios. «A Capital», 29/05/1911, col.4, p. 2.

 

7 – Sociabilidades, correspondência com outras feministas

Ana de Castro Osório[2]

Adelaide Cabete

Sofia Quintino

 

8 – Manifestações de reconhecimento público (incluindo toponímia), prémios, condecorações

Rua Carolina Beatriz Ângelo, Quinta do Conde /Sesimbra

Rua Carolina Beatriz Ângelo, Charneca da Caparica /Almada

Praceta Carolina Beatriz Ângelo, Famões / Odivelas

Rua Beatriz Ângelo / Póvoa de Santo Adrião

Rua Carolina Beatriz Ângelo, Caselas /Belém

Hospital Beatriz Ângelo, Loures

 

9 – Espólios

10 – Elementos biográficos do percurso de vida, incluindo moradas: sumário

Carolina Beatriz Ângelo (16/04/1878, São Vicente/Guarda; 03/10/1911, Lisboa)

Médica, militante feminista,  Carolina Beatriz Ângelo inscreveu o seu nome na história ao tornar-se a primeira mulher portuguesa a realizar uma cirurgia e por ser a primeira a votar, em Portugal e em qualquer país da Europa do Sul. Foi figura presente no panorama do primeiro movimento feminista português ganhando maior destaque quando abandona a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, onde era vice-presidente, em 1911, para fundar, em maio do mesmo ano, com a amiga Ana de Castro Osório a Associação de Propaganda Feminista (1911-1918). Assumiu a presidência desta agremiação, cuja reunião inaugural decorreu no seu consultório (12/05/1911), período em que acontece o seu voto histórico nas eleições para a Assembleia Nacional (28/05/1911) que a tornaram um símbolo das sufragistas, também a nível internacional. A sua morte prematura, poucos meses depois, em outubro, mereceu destaque no semanário, Votes for Women, órgão das sufragistas inglesas.

Filha de Viriato António Ângelo e de Emília Barreto Ângelo, nasceu na Guarda. Frequentou o Liceu na terra natal, matriculou-se na Escola Politécnica e Médica de Lisboa, licenciou-se no mesmo ano do seu casamento com o também médico e ativista republicano Januário Barreto, em 1902, tendo sido pioneira no exercício de operações cirúrgicas. Residiu em Lisboa na Rua do Sol ao Rato, 181, na Rua António Pedro/S. Jorge de Arroios (onde veio a falecer) e teve consultório na Rua Nova do Almada, 64. Foi iniciada na maçonaria, em 1907. Colaborou, com Adelaide Cabete, na confeção da bandeira desfraldada a 5 de outubro de 1910. Com a implantação da República, a lei eleitoral da República não incluía, mas também não excluía, o sufrágio feminino já que a capacidade de voto era reconhecida a quem soubesse ler e escrever e fosse chefe de família. Carolina Beatriz Ângelo, sendo viúva e com uma filha a cargo preenchia todos os requisitos enunciados na lei pelo que requereu a sua inscrição nos cadernos eleitorais, que lhe foi recusada, dando início a uma dura batalha judicial que exigiu muita persistência, e alguma sorte, mas culminou com o seu voto na Assembleia Eleitoral de Arroios, a funcionar no Clube Estefânia[3]. Durante este processo foi alvo de várias entrevistas e crónicas. Neste período propôs o alargamento do serviço militar às mulheres já que defendia que elas transportariam para a tropa a experiência que possuíam na governação da casa, propondo que lhes fosse atribuída a administração militar e os serviços de ambulância, enfermagem e cozinha. Não foi uma teórica do feminismo e não chegou a concretizar o desejo manifestado nos últimos meses de vida de escrever artigos de propaganda nos jornais. Faleceu com 33 anos vítima de sincope cardíaca, após se ter sentido mal durante a viagem de elétrico no regresso de uma reunião da APF, deixando órfã Maria Emília Ângelo Barreto, com 8 anos de idade. Presentemente, encontra-se sepultada em jazigo no Cemitério dos Prazeres[4].

Em 2021, realizou-se um Ciclo Internacional de Conferências, organizado por Mulheres sem Fronteiras, “Movimentos de Mulheres nos séculos XX e XXI– 110.º aniversário do Voto de Carolina Beatriz Ângelo”, evento que foi participado por descendentes da primeira eleitora portuguesa.

 

11 – Fontes bibliográficas primárias

Cf. ponto 6 (entrevistas)

 

12 – Fontes bibliográficas secundárias

BARROSO, Maria do Sameiro (2016) – Carolina Beatriz Ângelo: A Prática da Medicina e a Luta pelos Direitos das Mulheres. Conferência proferida na Ordem dos Médicos de Lisboa, a 12 de março de 2016. Disponível em: https://ordemdosmedicos.pt/wp-content/uploads/2017/09/CAROLINA_BEATRIZ_ÂNGELO_trabalho_completo.pdf

ESTEVES, João (1998) – As Origens do Sufragismo Português. A primeira organização sufragista portuguesa: A Associação de Propaganda Feminista (1911-1918). Lisboa: Bizâncio.

ESTEVES, João (2005) – Carolina Beatriz Ângelo. In CASTRO, Zília Osório; ESTEVES, João, dir. – Dicionário no Feminino. Séculos XIX e XX. Lisboa: Livros Horizonte, p. 202-204.

OLIVEIRA, Américo Lopes de (1981) – Dicionário de Mulheres Célebres. Porto: Lello & Irmão.

SILVA, Regina Tavares (2013) – Carolina Beatriz Ângelo.  (1878-1911) [Col. Fio de Ariana]. Lisboa: Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género.

Diário de Notícias: “Falecimentos – D. Carolina Beatriz Ângelo”, 04/10/1911, p.2, col.7; “Funerais – D. Carolina Beatriz Ângelo”, 05/10/1911, p.5, cols. 4-5; “Necrologia”, 25/03/1935, p.5, col. 5; 26/03/1935, p.4, col.4.

 Doutora Carolina Beatriz Ângelo – A inauguração do seu retrato. «A Madrugada», n.º4, 30/11/1911, col.1, p.2.

 

13 – Fontes Iconográficas e Audiovisuais;

 – “As mulheres e o serviço militar obrigatório” (Desenho humorístico), A Capital, 27/05/1911, p.2, col.1

– Carolina Beatriz Ângelo acompanhada de Ana de Castro Osório, no dia das eleições, Ilustração Portuguesa, 05/06/1911, p. 714

– Ana de Castro Osório e Carolina Beatriz Ângelo: https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Ana_de_Castro_Osório

– Selos e Marcas Postais “Mulheres da Republica” – emissão CTT de 05 de outubro de 2009

http://nucleofilateliafaro.blogspot.com/2009/10/as-mulheres-da-republica.html: Carolina Beatriz Ângelo

– “Beatriz Ângelo –À porta da história”: https://www.rtp.pt/programa/tv/p32272/e6

– “Beatriz Ângelo, a primeira mulher a votar em Portugal”: https://ensina.rtp.pt/artigo/beatriz-angelo-a-primeira-mulher-a-votar-em-portugal/

– “Carolina Beatriz Ângelo – Quem Foi a Mulher Que Dá Nome ao Hospital de Loures ?: https://tvi24.iol.pt/videos/sociedade/carolina-beatriz-angelo-quem-foi-a-mulher-que-da-nome-ao-hospital-de-loures/604658480cf277cf82b9f701

13a) – Foto de Perfil

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Carolina_Beatriz_Ângelo.jpg

 

NOTAS:

[1] Ano de Nascimento diverge consoante a fonte: 1877 em Esteves, 2005, 1878, em Silva, 2013. Optou-se pela informação contida na publicação mais recente.         

[2] Cartas para Ana de Castro Osório a 02/07/1911, 13/08/1911, 11/10/1911, em espólio na BN, ACPC, Coleção Castro Osório, Esp. N12/419 (reproduzidas apud Esteves, 1998, p. 238-244).

[3] Principais datas deste processo: 04/04/1911: CBA apresenta requerimento para ser incluída nos cadernos eleitorais; 28/04/1911: o juiz da 1.ª Vara Cível de Lisboa, João Baptista de Castro (pai de Ana de Castro Osório), pronuncia-se favoravelmente a favor do requerimento, indicando a inclusão de CBA nos cadernos eleitorais; 28/05/1911: durante as eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, CBA torna-se a primeira mulher a votar em Portugal.

[4] Em romagem realizada ao Cemitério dos Prazeres (03/10/2021), organizada por Mulheres Sem Fronteiras, registei que Carolina Beatriz Ângelo, sepultada primeiramente noutro cemitério, se encontra no jazigo n.º6906, na rua 5b em jazigo assim identificado “À memória de Afonso Luciano Barreto da Gama e Padre António Barreto”.

Inventariante / data:

Ana Ribeiro (anaribeirodasilva.mail@gmail.com) / outubro 2021

Este trabalho, para efeitos de citação:

RIBEIRO, Ana (2021) – Carolina Beatriz Ângelo. In BRASIL, Elisabete; LAGARTO, Mariana; RIBEIRO, Ana (2021) – Feminismos antes do 25 de Abril de 1974 (Portugal 1890-1949). Lisboa: FEM, p. 115-120.

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