“Fressureira”, “Rita Macho”, “Fufa”, “Lésbica”… quem nunca ouviu tais termos, sempre aplicados pejorativamente? Qual é a “Fressureira”, “Rita Macho”, “Fufa”, “Lésbica” que nunca foi assim chamada? Com má intenção, claro.
Em Portugal, nos tempos que correm, as leis, no que toca à população LGBTI+, e em especial às mulheres lésbicas, não andam lado a lado com as mentalidades de grande parte das pessoas. Ainda hoje! Em pleno século XXI! E são as leis que vão à frente… até de algumas “Fressureiras”, “Ritas Macho”, “Fufas” e “Lésbicas”.
A repressão aos modelos não-heteronormativos começa em tempos remotos. Na Idade Média, por exemplo, através das Ordenações Afonsinas e Filipinas, a homossexualidade, remetida para uma única palavra e designação, “sodomia”, era punida com a pena de morte. Durante a 1ª República, em 1912, surge uma lei que enquadra a homossexualidade sob a grande capa da mendicidade: as pessoas de sexualidades não-normativas eram condenadas a prisão correcional, de um mês a um ano. Já com o Estado Novo, o sistema é otimizado no Código Penal de 1954, o que faz com que os homossexuais e as lésbicas possam ser internados/as (!) em manicómios criminais, em casas de trabalho ou colónias agrícolas, vigiados/as e controlados/as constantemente.
Hoje, com as reivindicações do movimento LGBTI+, e do movimento feminista, avançámos legalmente. As coisas já não são o que eram (e ainda bem), mas a homofobia e as atitudes discriminatórias contra as “Fressureiras”, “Rita Macho”, “Fufas“ e “Lésbicas” continuam bem presentes no nosso quotidiano, enraizadas na mentalidade da população portuguesa… e, muitas vezes, na dos próprios homossexuais e das lésbicas.
Quantas vezes vemos na rua atos homofóbicos? Quantas vezes os sentimos na pele? Quantas vezes ouvimos o típico “Ainda não tiveste foi um homem a sério”, “Vou mostrar-te o que é que é bom” ou “Só gostas de gajas porque nenhum homem te quer”? A resposta é fácil. Demasiadas vezes. Nem devíamos ver, ouvir e muito menos sentir este tipo de coisas! Qual é a diferença entre darmos um beijo à nossa namorada, duas raparigas a darem um beijo, e um rapaz beijar uma rapariga? Qual é a diferença entre andarmos de mão dada na rua, duas raparigas de mão dada, e um casal heterossexual de mãos enlaçadas? “Ah, tu podes ser o que quiseres, mas não é preciso andar aí a mostrar, podes fazer isso em casa.” Há que desconstruir, há que mostrar que não é por amarmos alguém do mesmo sexo que somos diferentes, anormais, nojentas.
“Fressureira”, “Rita Macho”, “Fufa”, “Lésbica”… Já chega! Chega de homofobia, chega de invisibilidade, de repressão social. Chega de nos quererem obrigar a ser uma coisa que não somos. De nos quererem envergonhar. Vergonha é o silêncio!
Raquel Afonso