Marcha 25 de Novembro

LUTO pelas mulheres assassinadas

Em 1999, em memória de Minerva, Pátria e Teresa Mirabal, as dominicanas assassinadas em 1960, e conhecidas como Las Mariposas, as Nações Unidas declararam o dia 25 de Novembro como o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.

20 anos passados sobre esta declaração, 20 anos passados sobre as manifestações que, anualmente, em todo o mundo, marcaram esta data, homenageando e celebrando a coragem destas três irmãs, em que todas e todos que lutam pela plena implementação dos Direitos Humanos se revêm, passados quase 60 anos sobre o cruel assassinato de Las Mariposas, continua a ser preciso erguer bem alto a voz e dizer que estamos de LUTO pelas mulheres assassinadas, em todos os continentes, vítimas de múltiplas formas de violência de género.

Em Portugal, um país com legislação avançada no que diz respeito ao reconhecimento da plena igualdade de direitos das mulheres, os femicídios acontecem a um ritmo assustador.

No ano de 2019, em média, houve um femicídio a cada 10 dias.

Em Portugal, este ano, em média, foram assassinadas em contexto de intimidade três mulheres por mês.

Os números revelam que, também no nosso país, aproximadamente uma em cada três mulheres reconhece ser, ou já ter sido violentada de alguma forma ao longo da sua vida, apenas por ser mulher.

Portugal, que se diz ser um país de brandos costumes onde, como na maior parte dos países latinos, “as mães” são aparentemente “idolatradas”, as mulheres continuam a ser as grandes vítimas do sistema patriarcal (e ancestral) porque ainda somos regidas e regidos por práticas sociais atentatórias da liberdade individual de cada mulher.

A lei foi à frente tentando marcar o passo, mas as práticas sociais têm-se mantido ofensivamente retrógradas, em muitas circunstâncias, também, apoiadas por sentenças infames e julgamentos públicos sobre a disponibilidade dos corpos das mulheres.

A violência contra as mulheres está de tal forma naturalizada em Portugal que, em contextos de profunda brutalidade e de crimes de ódio em razão do género, os media continuam a referir crimes “passionais”, ou a diabolizar as vítimas, por terem escolhido novos parceiros sentimentais, por simplesmente terem deixado de aceitar um quotidiano de violência ou por quererem seguir novos rumos. O caldo “cutural” em que nos movimentamos ainda não reconhece o pleno direito das mulheres a escolherem os seus caminhos e, de forma não oficial, mas “tradicional”, aceita que estes crimes continuem a ocorrer.

É por isso que, em 2019, vinte anos passados sobre a declaração do dia 25 de Novembro como Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, estamos na rua em protesto contra a discriminação a que as mulheres continuam a ser sujeitas no nosso país, contra o não reconhecimento do femicídio como um crime de ódio e contra todas as manifestações de violência de género, que são ainda mais abusivas, degradantes e ofensivas no caso de mulheres lésbicas, bi e transexuais, mulheres negras ou de outros grupos étnico-“raciais” oprimidos, mulheres migrantes e mulheres pobres.

É por isso que, em 2019, vinte anos anos passados sobre a declaração do dia 25 de Novembro como Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, estamos na rua em protesto contra a discriminação e a violência a que as mulheres continuam a ser sujeitas em todo o mundo, em particular em contexto de guerra e em contextos castradores do ponto de vista cultural, político e religioso.

O LUTO pelas mulheres assassinadas que exibimos nas ruas no dia 25 de Novembro de 2019, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres é o nosso grito individual de compromisso: “LUTO pela erradicação de todo o tipo de violência contra as mulheres!”

Em Lisboa, marchamos em LUTO pelas mulheres assassinadas e em atitude de LUTA por todas as mulheres, de todas as condições sociais, culturais, étnicas, funcionais, etárias, reconhecendo-lhes pleno direito de viverem de acordo com a sua orientação sexual, de identidade de género, em paz e numa sociedade que lhes reconheça, e que pratique, a igualdade em todos os seus aspetos.

×