ISABEL ABOIM INGLEZ

1 – Nome conhecido / Nome civil

Isabel Aboim Inglez / Maria Isabel Hahenman Saavedra de Aboim Inglez

 

2 – Local, data de nascimento / Local, data de morte

Lisboa, 7 de janeiro de 1902 / Lisboa, 8 de março de 1963

 

3 – Profissão / cargo / função / ocupação

Professora universitária, pedagoga, ativista feminista

 

4 – Relação com organizações feministas

Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas

Comissão Eleitoral Feminina da secção de Lisboa (uma das dirigentes): apoio à candidatura presidencial do general Norton de Matos (1949)

Comissão Central do Movimento Nacional Democrático Feminino

 

5 – Eventos feministas em que participou / foi nomeada para participar

 

6 – Publicações de teor feminista (autoria, entrevistas)

 

7 – Sociabilidades, correspondência com outras feministas

Maria Palmira Tito de Morais

Mário Soares

Maria Lamas

Virgínia Moura

 

 8 – Manifestações de reconhecimento público (incluindo toponímia), prémios, condecorações

Figura na toponímia de Almada (freguesia da Sobreda); Lisboa (Freguesia de Santa Maria de Belém); Moita (Freguesia de Alhos Vedros).

 

9 – Espólios

 

10 – Elementos biográficos do percurso de vida, incluindo moradas: sumário

Isabel Aboim Inglês (1902/1963), nasceu em Lisboa na Rua Nova do Loureiro, no Bairro Alto, numa família burguesa. Filha de João Saavedra, espanhol naturalizado português e de Elisa Augusta Hahenman Saavedra. Aos 20 anos casou com Carlos Aboim Inglez, seu colega do liceu Pedro Nunes, “um casamento de grande entendimento e apoio mútuo” (Tengarrinha, 2020, p. 214). Estimulada pelo marido, após o quinto filho, Isabel retoma os estudos, matriculando-se, em 1936, na Faculdade de Letras de Lisboa no curso de Ciências Histórico-Filosóficas (Tengarrinha, 2020, p. 214). Em novembro de 1938, findo o curso, funda com o marido o Colégio Feminino Fernão de Magalhães onde é diretora e professora, sito na Rua dos Lusíadas n.º 5, em Alcântara. Este colégio atraiu as crianças da alta burguesia de Lisboa devido às qualidades pedagógicas excecionais da sua diretora, que defendia a relevância do ensino primário para a boa formação das crianças e a necessidade de docentes com preparação adequada a este grau de ensino, teoria “frontalmente contrária à política salazarista, que relegava para este grau de ensino (…) os chamados regentes escolares, aos quais bastava ter a quarta-classe” (Tengarrinha, 2020, p. 215). Em 1941, ingressa como assistente de Psicologia nessa Faculdade e também como Professora das disciplinas de Filosofia Antiga e de História da Filosofia Medieval. Lecionava na Faculdade quando o marido faleceu prematuramente (1942). A este drama somam-se as perseguições do ministro da Educação que a levam a abandonar as funções na Faculdade. Posteriormente dá-se o encerramento do seu colégio pela PIDE (11/02/1949) e é-lhe retirada autorização para exercer a profissão de professora, em retaliação ao seu papel destacado na oposição, sendo a primeira mulher a pertencer à Comissão Central do Movimento da Unidade Democrática (MUD), e posteriormente ao Movimento Nacional Democrático (MDN), com participação de destaque no movimento de apoio à candidatura de Norton de Matos (1949). A sua situação é grave porque tem uma família numerosa a seu cargo e é impedida de lecionar pelo que amigos e pessoas que a admiram lhe proporcionam um convite para reger uma cadeira de filosofia numa Universidade Brasileira. Vende móveis e livros e prepara-se para emigrar, mas o governo nega-lhe a emissão do passaporte. Um professor universitário ligado ao regime tenta interceder por ela junto de Salazar que lhe responde “Ela é mulher, que vá coser meias!” (Tengarrinha, 2020, p. 216).  Nesta situação, arrendou um apartamento e criou um atelier de costura, dava explicações e fazia traduções. Foi presa várias vezes, na década de 1940, e agredida na prisão de Caxias, em 1960, quando aí se encontrava em visita ao filho. Presidiu à sessão comemorativa do segundo aniversario da morte de Bento de Jesus Caraça, a 25 de junho de. 1950. Em 1958 é impedida pelo Governo de se apresentar como candidata da Oposição Democrática nas eleições para a Assembleia Nacional de 1961[1]. Chamada “A Mulher sem Medo” e a “Indomável” relata deste modo a sua experiência:

“Eu, na minha vida prisional, fazia sempre o seguinte: tomava duche, mesmo quando o duche era frio, arranjava-me, vestia-me, maquilhava-me um pouco, como de costume, com o mesmo cuidado como se fosse tomar chá à Baixa. Assim, quando eles me chamavam, fosse para interrogatórios, ou fosse para o que fosse, deparavam comigo preparada para os enfrentar. Era uma maneira de os fazer compreender que eu estava firme, que estava absolutamente convicta das minhas ideias, uma forma imediata, visual, de terem um impacto: – com esta não conseguimos nada.” (Tengarrinha, 2020, p. 217).

11 – Fontes bibliográficas primárias

AAVV (1949) – Às Mulheres de Portugal. Colectânea dalguns discursos pronunciados para propaganda da Candidatura. (Prefácio do Prof. Azevedo Gomes). Lisboa: Edição dos Serviços Centrais da Candidatura do General Norton de Matos.

 

12 – Fontes bibliográficas secundárias

FONSECA, Teresa (2005) – Maria Isabel Hahenman Saavedra de Aboim Inglez. In CASTRO, Zília Osório; ESTEVES, João, dir.Dicionário no Feminino. Séculos XIX e XX. Lisboa: Livros Horizonte, p.694-695.

JANEIRO, Helena Pinto (2010) – A questão feminina na campanha de Norton de Matos. In PAULO, Heloísa; JANEIRO, Helena Pinto, ed. – Norton de Matos e as Eleições Presidenciais de 1949: 60 anos depois. Lisboa: Colibri, p. 35-56.

MELO, Rose Nery Nobre (1975) – Mulheres Portuguesas na Resistência. Lisboa: Seara Nova, p. 46-47.

ROSAS, Fernando; SIZIFREDO, Cristina (2013) – A perseguição aos Professores. Lisboa: Tinta da China, p. 85-87.

ENGARRINHA, Margarida (2020) – Maria Isabel Aboim Inglez. «Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher», n.º 43, p. 213-221.

 

13 – Fontes Iconográficas e Audiovisuais;

– Fotos sobre Isabel Aboim Inglez

– Foto do espaço de exposição;

13a) – Foto de Perfil

http://silenciosememorias.blogspot.com/2020/11/2436-maria-isabel-aboim-inglez-retrato.html

NOTAS:

[1] Em reação à retirada dos seus direitos políticos escreve no jornal Republica o artigo “A Ética e a política” (31/10/1961).

Inventariante / data:

Ana Ribeiro (anaribeirodasilva.mail@gmail.com) / novembro 2021

Este trabalho, para efeitos de citação:

RIBEIRO, Ana (2021) – Isabel Aboim Inglez. In BRASIL, Elisabete; LAGARTO, Mariana; RIBEIRO, Ana (2021) – Feminismos antes do 25 de Abril de 1974 (Portugal 1890-1949). Lisboa: FEM, p. 148-151.

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